quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia



Tim Maia foi um personagem perfeito para uma biografia. Intenso e doidão, tinha muitas histórias memoráveis para contar. Desde sua vida suburbana na Tijuca, onde conviveu com Roberto e Erasmo Carlos (foi ele quem ensinou o Erasmo a tocar violão), indo pela sua passagem de 5 anos pelos Estados Unidos na adolescência e começo da vida adulta. Na volta ao Rio de Janeiro, deportado ao ser flagrado com um carro roubado. Sua luta para se encaixar no show business e a sua ascensão. Tudo isso está recheado de casos hilários, que você não acreditaria se o protagonista não fosse o Tim Maia do Brasil, como ele gostava de ser chamado.

Ninguém mais que Nelson Motta foi o responsável por escrever a biografia do amigo Tim. Que conheceu em 1969, quando foi produzir um disco da Elis Regina e estava atrás de uma música para o trabalho. Foi quando se deparou com “These are the songs” e viu o tamanho do talento do compositor, na época ainda um ilustre desconhecido. Motta foi uma espécie de espectro que circulava pela noite carioca desde o começo da década de 60. Presenciou o surgimento da Bossa Nova, do samba-rock, do rock anos 80, e outros tantos estilos da rica história da MPB. Muitas dessas histórias estão em seu outro livro chamado “Noites Tropicais”, mas aí já é uma outra história. Voltando ao gordo mais querido da música brasileira, o jornalista é preciso na fluidez da história. E se aproveitando do seu livre trânsito entre os mestres da música, reuniu depoimentos fantásticos. Nos sentimos numa roda fumando um com Tim do tanto que tudo é bem contado. Alias, as drogas têm um papel chave nesta história. Desde que conheceu a erva nos USA nunca mais a largou, sendo um consumidor que deixa o Marcelo D2 parecendo um menino. Outro fato que rende uma boa prosa foi sua constante mania de faltar aos shows. Com era um doidão crônico, muitas vezes fazia uma apresentação numa noite e varava o dia nas melhores companhias e com as melhores drogas. Sendo assim, não tinha condição nenhuma de cantar no dia seguinte.


Apesar desta falta de respeito com os empresários e o público, ele era amado por todos. Suas músicas tinham uma aceitação muito grande, em todas as classes e faixas etárias. O fazendo um campeão de vendas, o que lhe deu grande liberdade artística para ser o rei da música romântica brasileira, ou mela cueca e esquenta suvaco, como ele mesmo defina suas canções. Tim Maia do Brasil foi um dos maiores músicos da sua geração, vai ser lembrado para sempre. A biografia “Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia” está à altura do seu imenso talento e legado. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O império dos sentidos de Lucrecia Martel



O vigor criativo de Lucrecia Martel é apontado como um dos mais representativos do novo cinema argentino. Seu trabalho chamou a atenção de nomes como Pedro Almodóvar, que produziu os seus últimos longas-metragens: A mulher sem cabeça e A menina santa. O seu estilo é bem peculiar, o enredo pouco importa para o desenrolar da trama, sendo a sensação dos sentidos o fator decisivo que Martel busca para transmitir as mensagens das suas películas. É como cita Gabriela Halac em seu artigo Poética Pura, que faz parte do livro Poéticas en el cine argentino:
Em seus filmes não há um aspecto particular de uma realidade social (violência, abandono, desemprego, falta de comunicação, etc). Não escolhe um tema. Mas processa bem um caleidoscópio de imagens variadas. Seus focos são distorcidos. Detém-se nos detalhes que esta subjetividade significa. Arma novas figuras permanentemente. Constrói assim uma poética absolutamente pessoal, um realismo subjetivo cujos os sentidos se multiplicam.

Desde seu primeiro longa-metragem, O pântano, Martel segue uma linha bem particular que dita um ritmo por vezes arrastado. Neste filme ela mostra a história de uma família de classe média alta na Argentina no cenário da crise econômica por que passou a Argentina. Este, aliás, é um dos pontos de convergência do novo cinema argentino. Só que diferente de Pablo Trapero, em que este realismo se dá em outro nível. Como ocorre na primeira cena do filme, onde a matriarca da família sofre um acidente onde se corta com o vidro de um copo na beira da piscina. Lá estão várias pessoas, inclusive seu marido, que não se movem para ajudá-la. Esta metáfora da imobilidade do argentino ocorre em um nível quase metafísico. Com o recurso que virou uma das suas marcas registradas, o close que quase sempre corta as pessoas, ela transmite o marasmo dessas pessoas, que estão imóveis feito estátuas vendo tudo passar. A atmosfera é tão particular que você não vê uma tentativa de algum tipo de julgamento moral, e sim a busca pelo sentimento que elas estão emanando.

Para estimular os sentidos, ela utiliza o som de uma maneira a tocar o público. Com ela diz na entrevista para o site do jornal portenho El clarín sobre como estava decepcionada com algumas salas de cinema que não possuíam o  balanço de som necessário para dá ao espectador o sentimento esperado. “A equipe teve muito trabalho com em som do filme para que a pessoa que paga a entrada tenha uma versão incompleta. Pena que eles a viram em uma sala inadequada”. Diferente da tradição do cinema americano clássico que usa o som de maneira a interferir a todo instante no que as pessoas sentem, ela usa este recurso narrativo de maneira pausada, que é usado somente em partes chaves. Uma curiosidade é que muitas vezes o som aparece de maneiras espontâneas, como alguém dentro do carro (na hora que a protagonista de A mulher sem cabeça liga o som do carro) que coloca alguma música ou o próprio som ambiente do espaço, como na festa de carnaval em O pântano.

Criando escola

A forma de filmar de Martel tem começado a ser um ponto de referência para novos realizadores, como Albertina Carri. A diretora argentina segue em muitos pontos o estilo de Martel. O filme que mais representa influência é La Rabia de 2008, seu último longa-metragem. Elementos como tensões sexuais subterrâneas, a expressão por meio de desenhos por uma incapacidade de fala de um dos personagens e uma história que não precisa ser entendida e sim sentida são visíveis na película. É como observa José Geraldo Couto, crítico da Folha de São Paulo, “A diretora Albertina Carri descreve esse mundo macho um pouco à maneira de sua compatriota Martel, meio de lado, captando a ação já iniciada e abandonando-a antes de concluída. Um olhar oblíquo, lacunar”. Este filme possui a peculiaridade de ser produzido por outro importante nome do cinema argentino, Pablo Trapero.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Premiação do Emmy 2012



Minhas sugestões para o Emmy 2012 foram um desastre, não acertei nada para as principais categorias nas séries dramáticas. E ainda fiz a heresia de escrever que Homeland, a vencedora da noite, era o patinho feio dos indicados. Continuo com a mesma opinião, mas esta era uma competição tão parelha que qualquer uma poderia ter sido a escolhida. A pressão por bilheteria tem feito Hollywood cada vez mais careta e a TV tem sido o refúgio de profissionais que asseiam por mais liberdade de narrativa e temas. Acho que na minha análise eu coloquei demais a visão de um brasileiro vendo seu lado da questão do terrorismo. Subestimei o tanto que este é um assunto delicado para os estadunidenses e grande causador de emoções. A série foi um sucesso de audiência, e até o presidente Obama se declarou um fã.

Pelo que li nos cadernos culturais dos principais jornais, havia um consenso do favoritismo de Mad Men levar pela 5ª vez o troféu de melhor série ou o de melhor ator para Jon Hamm. Eu apostei nela também com Elizabeth Moss para melhor atriz e os prêmios de atores convidados tanto no feminino quanto no masculino nos publicitários. Mas acabou que a série não levou nada. A HBO também saiu de certa forma derrotada, suas superproduções, Game of Thrones e Boardwalk empire, saíram de mãos abanando. Porém Julia Louis-Dreyfus levou melhor atriz em comédia por Veep. Uma boa surpresa da noite foi Aaron Paul levando por ator coadjuvante, apontei para Jim Carter de Downton Abbey ou até mesmo para Giancarlo Esposito também de Breaking Bad. Mas Jesse Pinkman na 4ª temporada teve metamorfoses intensas e levou com merecimento.


As estatuetas mais nobres foram para Homeland, além do prêmio principal ganhou com melhor ator, atriz e roteiro. Minha favorita não levou, Peggy Olsen (Elizabeth Moss) teve uma ótima temporada, mas Claire Danes foi brilhante e era um consenso pela crítica que seria ela. Só não achei justo Damian Lewis ter ganhado, de todos os atores da lista ele tava num patamar abaixo. Mas o balanço que ficou foi de uma premiação justa e que soube reunir o que de tem sido feito nesta época de ouro das séries de TV.

sábado, 22 de setembro de 2012

Emmy 2012



Quando saiu a lista dos indicados para o Emmy deste ano fiz algo que não fazia há muito tempo. Assistir a todos os selecionados de um prêmio e fazer uma avaliação. Parei de fazer no ano de 2006 quando “Crash” ganhou o Oscar de melhor filme. Aí perdi todo a vontade de seguir algo em que fatores além da qualidade da obra são levados em conta. Eis que me deparo com a lista do Emmy em meados de julho. Somente obras de altíssimo nível técnico e artístico que me levaram a uma vontade irrefreável de assistir tudo. Claro que tive que deixar algumas de fora, as que tiveram apenas uma indicação em prêmios menores. Pois aí está a “parte chata” deste prêmio. Enquanto que no cinema os filmes avaliados são somente um, no caso das séries elas têm o formato de temporadas, o que pode ser meio penoso para quem está disposto a ir a fundo.

Indo para o que interessa, os indicados de melhor série são Boardwalk Empire, Game of Thrones, Mad Men, Downton Abbey, Homeland e Breaking Bad. Dando uma passada nos últimos anos no deparamos com o fenômeno Mad Men, faturando os 4 últimos prêmios de melhor série. Fato antes ocorrido somente com West Wing (de 2000 a 2003) e com Hill Street Blues (de 1981 a 1984).

Mad Men


Mad Men é antes de tudo uma série de época, mas não qualquer uma. Sim, um EUA na alvorada dos anos 60. E cada temporada segue os eventos que marcaram esta geração, tais como o assassinato de JFK, mísseis cubanos e acidentes aéreos. Apesar do primor na representação de época, o seu foco está nos pequenos incidentes. Seguindo a linha meio Douglas Sirk (Imitação da vida) ou Todd Haynes (Mildred Pierce, Far away from heaven). As limitações/barreiras sociais são tão cruéis como os grandes desafios de uma empresa de publicidade no coração de Manhatan. Mad men pode ser a 1ª série da historia do Emmy a ganhar 5 vezes seguidas o prêmio de Melhor Série. Desde sua 1ª indicação em 2008 engatou 4 premiações seguidas pela 2ª, 3ª e a 4ª temporadas. Sendo ainda um forte candidato com a 5ª temporada. A sintonia da equipe é algo tão incrível que ainda é difícil encarar um final a curto prazo dela. Ainda tem gás para 3 ou até mais temporadas.

A temporada em questão que está sendo avaliada é a 5ª. Depois dos problemas com a nova empresa de publicidade criada, ela começa a se estabilizar. Fatos como o novo casamento de Draper, o suicídio de Lane Pryce (Jared Harris), Joan Harris (Christina Hendricks) se tornando sócia da empresa depois que ela faz sexo com um cliente que coloca ela como “condição” para se fechar um grande negócio, não deixam a série perder o fôlego. Ela continua num patamar onde poucas séries chegaram, você pode colocar ela junto com Família Soprano por exemplo. Por isso minha aposta é que Mad Men vai fazer história e vai abocanhar o Emmy novamente. Quando forem fazer livros, estudos e trabalhos acadêmicos das séries de nossa época, ela vai receber um capítulo especial.

Game of Thrones


A adaptação para as telas de Game of Thrones foi uma das melhores coisas que aconteceram na televisão nos últimos tempos. E somente a HBO para dar o tratamento à altura do livro de George R. R. Martin, um dos maiores inovadores do gênero de literatura fantástica. A 1ª foi indicada e não levou o prêmio. O que levanta uma grande perspectiva quanto à 2ª levar. Apesar do enredo ter sido mais frenético, são 4 reis lutando pela coroa, a adaptação do livro deixou um pouco a desejar. A da 1ª ficou um primor, já agora, os roteiristas pareceram um pouco confusos e perdidos. Eles fizeram umas junções e deixaram de lado alguns personagens que podem comprometer o andamento das futuras temporadas. A historia da queda de Winterfell é praticamente outra , a saga de Arya de volta para casa também e o corte dos irmãos dos povos do pântano, que dão um tom sobrenatural para as visões de Bran. Claro que temos que levar em consideração que o livro é uma mídia e a tv é outra, mas este caso deixou transparecer que os roteiristas tão meio perdidos.

Mas por outro lado, a série continua ótima, quando Lord Stannis tenta invadir Porto Real, temos seqüências incríveis de guerra. Este é um dos picos da série, saber mesclar a violência extrema daquela época como diálogos geniais sobre política, surgimento de novas religiões e o poder. Longa vida à Game of Thrones, que conseguiu reunir um cast memorável e que tem sido carinhosamente levado pela HBO. Tanto que a audiência aumentou em cerca de 20% em relação à 1ª nos EUA.

Apesar do alto grau de felicidade que tenho quando me sento para assisti-la, sinto que ainda não é o momento dela ganhar o premio de melhor série. Mas é bom prestar atenção nela, como será longa (até agora foram lançados 5 livros, com previsão para mais 2), a premiação deve chegar em breve.

Breaking Bad


Uma das melhores surpresas que tive nos últimos anos no mundo das séries de tv. O que me levou a seguinte indagação: Como assim nunca tinha batido com ela antes? Na pequena cidade de Albuquerque, perto da fronteira com o México, o professor de química Walter White (Bryan Cranston) descobre que tem câncer nos pulmões. Apesar de ser brilhante, nunca conseguiu enriquecer, sendo um típico cidadão da classe média americana que vive nos subúrbios. Com um filho adolescente e a mulher grávida se desespera ao saber que o tratamento é caríssimo. Vendo uma reportagem na TV descobre que um traficante de metanfetamina ganha muito dinheiro. Aí cai a ficha que pode deixar um bom “pé-de-meia” para sua família, porém este trajeto será tão fácil.

Indo direto para a temporada indicada, a 4ª. Já vemos um White em contato com um chefão que está há anos no ramo que o contrata para trabalhar no seu laboratório particular. Porém Gus Fring (Giancarlo Espósito) decide eliminá-lo do ramo pela sua relação com seu cunhado da DEA (Polícia anti-drogas nos EUA), que para deixar claro não sabe de nada. Mas por ser um policial teimoso está chegando perto de Gus. O assassinato só não ocorre porque seu parceiro Jesse Pinkman (Aaron Paul) não permite.

Sei que fica meio complicado, mas vou passar rapidamente sobre os fatos. Se eu for falar de todas as temporadas vai ser um caminho muito longo. Depois de cair em descrédito com Gus na produção do Crystal (metanfetamina) junto com Walter, ele é levado para outra função na empresa criminosa do chefão, ele vira guarda-costas. Porém no fundo, esta é uma tentativa de quebrar a união Jessé/Walter.
Uma coisa que me atrai na série são os atores coadjuvantes. Todos os personagens recebem um tratamento muito bem elaborado. Todos de alguma forma contribuem para o caráter de White, pois este novo mundo em que ele se mete, as regras são muito diferentes. Sinto que o protagonista vai sendo moldado conforme a situação, fazendo ele cometer inclusive assassinatos. Como é o incrível desfecho desta temporada, de tirar o fôlego. Para quem vai acompanhando a construção do personagem deste as primeiras temporadas se assusta um pouco com esta metamorfose. Pois apesar de ser um americano médio, ele não vai deixar ninguém se meter com sua família.

Dentre as séries indicadas, esta é a que mais “brinca” com os jogos de câmeras e inovações. Por exemplo, no começo dos episódios, sempre ocorre algo que foge à linguagem comum. Como por exemplo, um comercial de tv ou uma prisão de alguém do grupo. Cenas com planos seqüência de 5 minutos e brincadeiras de tempo, passando pelo presente, passado e futuro com uma liberdade incrível.

Homeland



Homeland foi baseado na série israelense Hatufim e já na sua 1ª temporada foi indicada para o Emmy. A série fala sobre um dos maiores atoleiros que os EUA se meteram na sua história recente, a Guerra do Iraque e a luta contra o terrorismo. Damien Lewis é Nicholas Brody, um soldado estadunidense que é capturado por integrantes da Al-Qaeda no Iraque e fica por 8 anos cativo por lá. Até que um dia é resgatado pelo exército americano e levado para casa como um herói de guerra. Porém todos achavam que ele estava morto, causando uma incrível comoção nos EUA. O transformando numa celebridade disputada pela tv e pelos políticos interessados em dá-lo um cargo público.

Mas aí entra a agente da CIA, Carrie Mathinson (Claire Danes), que anos antes recebeu a informação de uma fonte no Iraque que a Al-Qaeda tinha convertido um prisioneiro de guerra que iria fazer um atentado dentro dos EUA. Então suas suspeitas se direcionam para Brody, muito boa a tensão dela nesta procura, pois todos acham que ela está louca, pois ele é um herói. Esta busca dá bons momentos para a série, pois aí está o objetivo dos autores, a paranóia do próximo ataque de grandes proporções, como foi o 11 de setembro.

Apesar destes bons momentos, considero a série o “patinho feio” dos que foram indicados. Pois falta ironia na agente Carrie, às vezes ela mais parece um robozinho em busca de salvar a América dos terroristas maus. As motivações de Brody em fazer o atentado têm um grau de crítica à política americana, mas as ações do heroísmo de Carrie e seus parceiros da CIA são maiores. Portanto não apostaria em Homeland.

Downton Abbey


Depois da 1ª temporada ter sido ignorada pelo Emmy ano passado, ela obteve sua 1ª indicação. A trama se passa no seio de uma família aristocrática na Inglaterra da época da 1ª guerra mundial. A série consegue muito bem nos mostrar a razão da nobreza ter durado tanto tempo na Inglaterra, claro que não podemos nos iludir que todos os nobres ingleses são tão bons quanto os mostrados aqui, mas sente-se que eles possuem uma grande classe em tudo. Desde o trato com os empregados até a relação com a cidade que os cerca. Talvez esta seja uma das razões da nobreza está até hoje no poder do Reino Unido. Porém o século XX foi fundamental para a quebra de vários privilégios. O foco desta série me lembrou os filmes de Visconti, principalmente “O Leopardo”, onde vemos uma aristocracia na iminência de perder o seu poder e vendo uma nova ordem surgindo. Aqui representada pelo noivo de Lady Mary (Michelle Dockery), o influente dono de jornais, Richard Carlisle (Iain Glen).

A série dá umas deslizadas quanto ao “teor açucarado” das relações românticas. Deixando a história meio arrastada, mas não compromete o nível. Ela poderia ser mais crítica, tipo mostrar outros nobres mesquinhos. Pois às vezes pode dar uma impressão de idolatria à nobreza. Outro triunfo da série são os atores, dotados de uma capacidade incrível. Na trilha da escola inglesa de atores, uma das melhores. Tanto que a série foi a que indicou mais pessoas na categoria de melhor ator em geral. Com Michelle Dockery por melhor atriz, Hugh Bonneville por melhor ator, Joanne Froggatt e Maggie Smith por melhor atriz coadjuvante. Jim Carter e Brendan Coyle em melhor ator coadjuvante. Só gente de qualidade. Apesar de ótima, a concorrência está muito qualificada este ano. Na minha opinião carta fora do baralho na categoria de melhor série.

Boardwalk Empire


Os EUA sempre tiveram sua política pautada pelo puritanismo cristão. A Lei seca durou de 1920 e 1933 e foi uma cruzada do moralismo. Só que toda proibição dá uma margem à corrupção e contrabando, que acarreta em violência. É aí que está a história de Boardwalk Empire. Steve Buscemi é Nucky Tompson, tesoureiro de Atlantic City daquela época, que faz todo tipo de maracutaia para poder contrabandear álcool, apesar de ser um político que prega o contrário. Daí vemos uma das reflexões mais brilhantes que já vi do que é a  corrupção na política. O melhor da série é que ela tem o dedo de Martin Scorsese, produtor executivo, o que dá um alto grau de qualidade.

A 1ª temporada perdeu para Mad Men ano passado, nesta segunda vemos um Nuck ameaçado por todos os lados, desde novos interessados em roubar seu posto, até o governo federal, que o coloca em uma sinuca de bico. Porém Nucky não chegou onde chegou à toa e faz de tudo para não “largar o osso”. Agora casado com Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), que são uma espécie de porto seguro em sua vida, o vemos combatendo o grupo de Comodoro e seu filho Jimmy (Michael Pitt). Gostei bastante de como a série tem uma estética ousada, o jogo de câmeras e os diálogos são de muito bom gosto. A cena onde Jimmy é morto por Nucky é de uma beleza incrível.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Para Roma, com amor


A abertura de "Para Roma, com amor" é um deleite para os olhos. Aquele traveling da câmera pairando sobre a Cidade Eterna com Volare de pano de fundo é inesquecível. Este show de imagens me deu uma mostra do que seria mais uma viagem inteligente pelo universo do judeu mais paranóico do cinema americano. O que dizer daquele que é um dos grandes diretores americanos vivos, que trabalha num ritmo acelerado de produção mesmo no alto dos seus 76 Anos. Muitas fases permearam os seus trabalhos nestes anos. Desde 1966 com “O que há, Tigresa?” até o Para Roma, com amor.  Ele foi desde o humor pastelão até filmes intimistas à la Ingmar Bergman. Apesar de filmes com temáticas distintas sempre podemos ver um estilo próprio, pegando emprestado o que os franceses da Cahiers du cinema chamavam de “cinema de autor”. É este toque refinado que vemos neste último filme, que faz parte da série que ele produziu na Europa.

Roma

Depois de Londres, Barcelona e Paris, o palco agora é Roma com toda a sua beleza e carga histórica. Woody Allen é um daqueles diretores que sabem ir a fundo nas cidades, depois da suas mil visões brilhantes da cidade de NovaYork, ele nos mostra uma Roma fabulosa, personagem ativa nas quatro tramas do filme. Dos seus atores habituais somente Judy Davis está presente, além do próprio diretor, que voltou a ser ator depois de 6 anos longe desta função. Sua última aventura na frente das câmeras havia sido em “Scoop”. Agora ele resolveu trabalhar com Roberto Benigni, Alisson Pill (Zelda Fitzgerald em Meia-noite em Paris), Penénole Cruz (também pela segunda vez), Ellen Page, Jessé Einsenberg e Flávio Parente, entre os principais.

Na época da pré-produção do longa surgiram rumores que Allen iria fazer uma livre adaptação de um livro clássico italiano, Decamerão de Boccaccio. O que acabou não se concretizando. O que acontece são quatro histórias com a marca do diretor. Com uma dose certa de comicidade inteligente, sem exageros. A mais interessante é a que participa o próprio, pois nela podemos apreciar mais o estilo dos diálogos cômicos e paranóicos. Allen faz o papel de Jerry, diretor e produtor de ópera que ao ir para Roma visitar a filha que vai se casar, descobre no pai do namorado da filha uma voz incrível. Depois de várias tentativas de convencê-lo a cantar profissionalmente, finalmente o leva para uma audição. Que se revela um fracasso, pois ele só consegue canta no chuveiro. Eis que Jerry tem a brilhante idéia de colocar nos palcos banheiros improvisados para que ele cantasse sem medo. O que vem daí são seqüências hilárias, que por si já valeriam a ida ao cinema, mas ainda tem mais.

Enquanto isso, entramos no mundo do estudante de arquitetura Jack (Jesse Eisenberg, aquele de “A rede social”). Que estuda em Roma e por acaso encontra um arquiteto americano (Alec Baldwin) nas ruas da cidade e o convida para tomar um café na sua casa. E num daqueles truques “woody-allenianos”, se transforma numa espécie de grilo falante de Jack. Dando conselhos em um caso amoroso que ele tem com a amiga da namorada.

Na mais romana das histórias, onde se fala italiano, em situações típicas da cultura italiana vemos Milly e Antonio. Italianos do interior que vão para a capital para um encontro com a família de Antonio, onde ele busca arrumar um emprego e viver com
a “gente fina” da cidade. Só que minutos antes do encontro com a família no hotel em que estão, Milly vai dar uma volta na cidade e se perde. Na espera da esposa ele escuta uma batida na porta, e ao abri-la se depara com Anna (Penélope Cruz), prostituta que num engano acha que ele é que solicitou os seus serviços. Só que neste meio tempo a família dele chega e se depara com ela, então a solução é mentir e dizer que ela é sua esposa.

Já na história onde o protagonista é Roberto Benigni, vemos uma crítica ácida aos meios de comunicação de massa na sua eterna busca por glorificar pessoas estúpidas. Ao sair de casa num dia qualquer, Leopoldo inexplicavelmente é alvo de paparazzis que começam a fazer perguntas banais para ele. Até que a coisa vai se tornando maior e ele começa a se tornar a pessoa mais famosa de Roma. Só que da mesma maneira que a fama veio, ela vai embora. Causando uma demência no personagem, que apesar de a ter rejeitado, descobre que não consegue viver semm ela. Benigni está ótimo, Woody Allen conseguiu adaptar legal o estilo cômico do italiano para o seu modo de filmar.

Vi muitas críticas negativas nas redes sociais e em alguns jornais. Mas ao sair do cinema eu tava leve e pensativo, num ótimo humor e com aquele sentimento de satisfação depois que vemos uma obra de arte que nos toca. Acusam do filme de ser mais do mesmo do diretor, mas se isso é o resultado de um estilo repetido, então ele acertou em cheio. Gostei mais de “Meia-noite em Paris”, mas este não fica muito atrás. O site IMDB tem a informação de que ele já tem mais um projeto no forno, em 2013 será a vez de Cate Blanchett e Alec Baldwin protagonizarem mais este trabalho do mestre. Porém as informações são poucas, nem nome o filme ainda tem, mas certamente será mais um dos grandes acontecimentos da comunidade cinéfila atual, esperar o novo filme de Woody Allen.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

On the Road

On the Road não é um filme ruim, mas ao sair do filme fiquei com aquela sensação de que ficou faltando alguma coisa. Depois que li o livro há uns anos deu uma puta vontade de fazer uma viagem e conhecer o interior do Brasil. Mas após o filme a única sensação que me deu foi a de o tanto que é cansativo fazer uma viagem deste tipo. Talvez tenha faltado um pouco da poética louca e descompromissada do movimento beatnik no cinema de Walter Salles. A película tem bons momentos, principalmente na hora das noitadas regadas a jazz. Essa era uma das ambições de Jack Kerouac, fazer uma literatura no ritmo frenético do bebob. Salles consegue em alguns momentos, porém no final a tentativa de fazer um balanço do que aquela jornada poderia significar para os personagens faz com que a sua adaptação fique mais com cara de Coll jazz, isto é, demasiadamente suave e contemplativa. Apesar dos pesares, vale a ida ao cinema, em face do conformismo que tá rolando hoje no cinema, este é um filme que vai dar uma balançada, não da mesma força que o livro, na sua maneira de ver o mundo. O que me faz pensar na epopéia que foi levar o livro para a grande tela. Tantos e tantos projetos frustrados. A primeira que falaram em adaptar o livro foi no final dos anos 70 com Johnny Depp como Dean Moriarty sob a tutela de Francis Ford Copolla. Porém o projeto não seguiu adiante por várias razões. Até que o diretor de Godfather, depois de assistir “Diários de motocicleta” achou que Salles iria dar o tom certo. O que me coloca num exercício de imaginação. O que seria se a adaptação fosse feito ainda sob os efeitos dos anos 60 e 70? Ainda fortemente influenciadas pelo movimento beatnik.

Em relação aos atores rola uma química legal. E quem eu achei que iria ser o elo fraco da corrente se saiu muito bem. Kristen Stewart (aquela da série Crepúsculo) é uma Marylou bem safadinha, talvez pela força do seu olhar de louca ninfomaníaca, eu achei a personagem no filme melhor que no livro. Quanto aos outros deu um nó na orelha. Achei o Sam Riley um Sal Paradise meio bonzinho e bonitinho demais. E Garrett Hedlund, um Dean Moriarty vibrante, mas sem chegar ao nível “loucura total” do livro. Porém estas são observações de alguém que tem o livro como uma espécie de bíblia e que se sente incomodado em visões que divergem de sua visão sacra. Em algumas cenas vemos o tanto que houve um bom trabalho de atores. Destaco também Viggo Mortensen como Old Bull Lee, uma espécie de alter ego de William Burroughs, outro mestre beatnik.

Para finalizar, eu não poderia deixar de citar a direção de fotografia. Eric Gautier já havia trabalhado antes com Walter Salles em “Diários de Motocicleta”. E também “Na Natureza Selvagem”, desta vez com Sean Penn, outro road movie na sua mais completa tradução. Como é bom ver aquele céu e a paisagem do interior norte americano. Dá uma sensação de como a vida é chata quando se trabalha em um escritório de segunda a sexta usando gravata.