segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Premiação do Emmy 2012



Minhas sugestões para o Emmy 2012 foram um desastre, não acertei nada para as principais categorias nas séries dramáticas. E ainda fiz a heresia de escrever que Homeland, a vencedora da noite, era o patinho feio dos indicados. Continuo com a mesma opinião, mas esta era uma competição tão parelha que qualquer uma poderia ter sido a escolhida. A pressão por bilheteria tem feito Hollywood cada vez mais careta e a TV tem sido o refúgio de profissionais que asseiam por mais liberdade de narrativa e temas. Acho que na minha análise eu coloquei demais a visão de um brasileiro vendo seu lado da questão do terrorismo. Subestimei o tanto que este é um assunto delicado para os estadunidenses e grande causador de emoções. A série foi um sucesso de audiência, e até o presidente Obama se declarou um fã.

Pelo que li nos cadernos culturais dos principais jornais, havia um consenso do favoritismo de Mad Men levar pela 5ª vez o troféu de melhor série ou o de melhor ator para Jon Hamm. Eu apostei nela também com Elizabeth Moss para melhor atriz e os prêmios de atores convidados tanto no feminino quanto no masculino nos publicitários. Mas acabou que a série não levou nada. A HBO também saiu de certa forma derrotada, suas superproduções, Game of Thrones e Boardwalk empire, saíram de mãos abanando. Porém Julia Louis-Dreyfus levou melhor atriz em comédia por Veep. Uma boa surpresa da noite foi Aaron Paul levando por ator coadjuvante, apontei para Jim Carter de Downton Abbey ou até mesmo para Giancarlo Esposito também de Breaking Bad. Mas Jesse Pinkman na 4ª temporada teve metamorfoses intensas e levou com merecimento.


As estatuetas mais nobres foram para Homeland, além do prêmio principal ganhou com melhor ator, atriz e roteiro. Minha favorita não levou, Peggy Olsen (Elizabeth Moss) teve uma ótima temporada, mas Claire Danes foi brilhante e era um consenso pela crítica que seria ela. Só não achei justo Damian Lewis ter ganhado, de todos os atores da lista ele tava num patamar abaixo. Mas o balanço que ficou foi de uma premiação justa e que soube reunir o que de tem sido feito nesta época de ouro das séries de TV.

sábado, 22 de setembro de 2012

Emmy 2012



Quando saiu a lista dos indicados para o Emmy deste ano fiz algo que não fazia há muito tempo. Assistir a todos os selecionados de um prêmio e fazer uma avaliação. Parei de fazer no ano de 2006 quando “Crash” ganhou o Oscar de melhor filme. Aí perdi todo a vontade de seguir algo em que fatores além da qualidade da obra são levados em conta. Eis que me deparo com a lista do Emmy em meados de julho. Somente obras de altíssimo nível técnico e artístico que me levaram a uma vontade irrefreável de assistir tudo. Claro que tive que deixar algumas de fora, as que tiveram apenas uma indicação em prêmios menores. Pois aí está a “parte chata” deste prêmio. Enquanto que no cinema os filmes avaliados são somente um, no caso das séries elas têm o formato de temporadas, o que pode ser meio penoso para quem está disposto a ir a fundo.

Indo para o que interessa, os indicados de melhor série são Boardwalk Empire, Game of Thrones, Mad Men, Downton Abbey, Homeland e Breaking Bad. Dando uma passada nos últimos anos no deparamos com o fenômeno Mad Men, faturando os 4 últimos prêmios de melhor série. Fato antes ocorrido somente com West Wing (de 2000 a 2003) e com Hill Street Blues (de 1981 a 1984).

Mad Men


Mad Men é antes de tudo uma série de época, mas não qualquer uma. Sim, um EUA na alvorada dos anos 60. E cada temporada segue os eventos que marcaram esta geração, tais como o assassinato de JFK, mísseis cubanos e acidentes aéreos. Apesar do primor na representação de época, o seu foco está nos pequenos incidentes. Seguindo a linha meio Douglas Sirk (Imitação da vida) ou Todd Haynes (Mildred Pierce, Far away from heaven). As limitações/barreiras sociais são tão cruéis como os grandes desafios de uma empresa de publicidade no coração de Manhatan. Mad men pode ser a 1ª série da historia do Emmy a ganhar 5 vezes seguidas o prêmio de Melhor Série. Desde sua 1ª indicação em 2008 engatou 4 premiações seguidas pela 2ª, 3ª e a 4ª temporadas. Sendo ainda um forte candidato com a 5ª temporada. A sintonia da equipe é algo tão incrível que ainda é difícil encarar um final a curto prazo dela. Ainda tem gás para 3 ou até mais temporadas.

A temporada em questão que está sendo avaliada é a 5ª. Depois dos problemas com a nova empresa de publicidade criada, ela começa a se estabilizar. Fatos como o novo casamento de Draper, o suicídio de Lane Pryce (Jared Harris), Joan Harris (Christina Hendricks) se tornando sócia da empresa depois que ela faz sexo com um cliente que coloca ela como “condição” para se fechar um grande negócio, não deixam a série perder o fôlego. Ela continua num patamar onde poucas séries chegaram, você pode colocar ela junto com Família Soprano por exemplo. Por isso minha aposta é que Mad Men vai fazer história e vai abocanhar o Emmy novamente. Quando forem fazer livros, estudos e trabalhos acadêmicos das séries de nossa época, ela vai receber um capítulo especial.

Game of Thrones


A adaptação para as telas de Game of Thrones foi uma das melhores coisas que aconteceram na televisão nos últimos tempos. E somente a HBO para dar o tratamento à altura do livro de George R. R. Martin, um dos maiores inovadores do gênero de literatura fantástica. A 1ª foi indicada e não levou o prêmio. O que levanta uma grande perspectiva quanto à 2ª levar. Apesar do enredo ter sido mais frenético, são 4 reis lutando pela coroa, a adaptação do livro deixou um pouco a desejar. A da 1ª ficou um primor, já agora, os roteiristas pareceram um pouco confusos e perdidos. Eles fizeram umas junções e deixaram de lado alguns personagens que podem comprometer o andamento das futuras temporadas. A historia da queda de Winterfell é praticamente outra , a saga de Arya de volta para casa também e o corte dos irmãos dos povos do pântano, que dão um tom sobrenatural para as visões de Bran. Claro que temos que levar em consideração que o livro é uma mídia e a tv é outra, mas este caso deixou transparecer que os roteiristas tão meio perdidos.

Mas por outro lado, a série continua ótima, quando Lord Stannis tenta invadir Porto Real, temos seqüências incríveis de guerra. Este é um dos picos da série, saber mesclar a violência extrema daquela época como diálogos geniais sobre política, surgimento de novas religiões e o poder. Longa vida à Game of Thrones, que conseguiu reunir um cast memorável e que tem sido carinhosamente levado pela HBO. Tanto que a audiência aumentou em cerca de 20% em relação à 1ª nos EUA.

Apesar do alto grau de felicidade que tenho quando me sento para assisti-la, sinto que ainda não é o momento dela ganhar o premio de melhor série. Mas é bom prestar atenção nela, como será longa (até agora foram lançados 5 livros, com previsão para mais 2), a premiação deve chegar em breve.

Breaking Bad


Uma das melhores surpresas que tive nos últimos anos no mundo das séries de tv. O que me levou a seguinte indagação: Como assim nunca tinha batido com ela antes? Na pequena cidade de Albuquerque, perto da fronteira com o México, o professor de química Walter White (Bryan Cranston) descobre que tem câncer nos pulmões. Apesar de ser brilhante, nunca conseguiu enriquecer, sendo um típico cidadão da classe média americana que vive nos subúrbios. Com um filho adolescente e a mulher grávida se desespera ao saber que o tratamento é caríssimo. Vendo uma reportagem na TV descobre que um traficante de metanfetamina ganha muito dinheiro. Aí cai a ficha que pode deixar um bom “pé-de-meia” para sua família, porém este trajeto será tão fácil.

Indo direto para a temporada indicada, a 4ª. Já vemos um White em contato com um chefão que está há anos no ramo que o contrata para trabalhar no seu laboratório particular. Porém Gus Fring (Giancarlo Espósito) decide eliminá-lo do ramo pela sua relação com seu cunhado da DEA (Polícia anti-drogas nos EUA), que para deixar claro não sabe de nada. Mas por ser um policial teimoso está chegando perto de Gus. O assassinato só não ocorre porque seu parceiro Jesse Pinkman (Aaron Paul) não permite.

Sei que fica meio complicado, mas vou passar rapidamente sobre os fatos. Se eu for falar de todas as temporadas vai ser um caminho muito longo. Depois de cair em descrédito com Gus na produção do Crystal (metanfetamina) junto com Walter, ele é levado para outra função na empresa criminosa do chefão, ele vira guarda-costas. Porém no fundo, esta é uma tentativa de quebrar a união Jessé/Walter.
Uma coisa que me atrai na série são os atores coadjuvantes. Todos os personagens recebem um tratamento muito bem elaborado. Todos de alguma forma contribuem para o caráter de White, pois este novo mundo em que ele se mete, as regras são muito diferentes. Sinto que o protagonista vai sendo moldado conforme a situação, fazendo ele cometer inclusive assassinatos. Como é o incrível desfecho desta temporada, de tirar o fôlego. Para quem vai acompanhando a construção do personagem deste as primeiras temporadas se assusta um pouco com esta metamorfose. Pois apesar de ser um americano médio, ele não vai deixar ninguém se meter com sua família.

Dentre as séries indicadas, esta é a que mais “brinca” com os jogos de câmeras e inovações. Por exemplo, no começo dos episódios, sempre ocorre algo que foge à linguagem comum. Como por exemplo, um comercial de tv ou uma prisão de alguém do grupo. Cenas com planos seqüência de 5 minutos e brincadeiras de tempo, passando pelo presente, passado e futuro com uma liberdade incrível.

Homeland



Homeland foi baseado na série israelense Hatufim e já na sua 1ª temporada foi indicada para o Emmy. A série fala sobre um dos maiores atoleiros que os EUA se meteram na sua história recente, a Guerra do Iraque e a luta contra o terrorismo. Damien Lewis é Nicholas Brody, um soldado estadunidense que é capturado por integrantes da Al-Qaeda no Iraque e fica por 8 anos cativo por lá. Até que um dia é resgatado pelo exército americano e levado para casa como um herói de guerra. Porém todos achavam que ele estava morto, causando uma incrível comoção nos EUA. O transformando numa celebridade disputada pela tv e pelos políticos interessados em dá-lo um cargo público.

Mas aí entra a agente da CIA, Carrie Mathinson (Claire Danes), que anos antes recebeu a informação de uma fonte no Iraque que a Al-Qaeda tinha convertido um prisioneiro de guerra que iria fazer um atentado dentro dos EUA. Então suas suspeitas se direcionam para Brody, muito boa a tensão dela nesta procura, pois todos acham que ela está louca, pois ele é um herói. Esta busca dá bons momentos para a série, pois aí está o objetivo dos autores, a paranóia do próximo ataque de grandes proporções, como foi o 11 de setembro.

Apesar destes bons momentos, considero a série o “patinho feio” dos que foram indicados. Pois falta ironia na agente Carrie, às vezes ela mais parece um robozinho em busca de salvar a América dos terroristas maus. As motivações de Brody em fazer o atentado têm um grau de crítica à política americana, mas as ações do heroísmo de Carrie e seus parceiros da CIA são maiores. Portanto não apostaria em Homeland.

Downton Abbey


Depois da 1ª temporada ter sido ignorada pelo Emmy ano passado, ela obteve sua 1ª indicação. A trama se passa no seio de uma família aristocrática na Inglaterra da época da 1ª guerra mundial. A série consegue muito bem nos mostrar a razão da nobreza ter durado tanto tempo na Inglaterra, claro que não podemos nos iludir que todos os nobres ingleses são tão bons quanto os mostrados aqui, mas sente-se que eles possuem uma grande classe em tudo. Desde o trato com os empregados até a relação com a cidade que os cerca. Talvez esta seja uma das razões da nobreza está até hoje no poder do Reino Unido. Porém o século XX foi fundamental para a quebra de vários privilégios. O foco desta série me lembrou os filmes de Visconti, principalmente “O Leopardo”, onde vemos uma aristocracia na iminência de perder o seu poder e vendo uma nova ordem surgindo. Aqui representada pelo noivo de Lady Mary (Michelle Dockery), o influente dono de jornais, Richard Carlisle (Iain Glen).

A série dá umas deslizadas quanto ao “teor açucarado” das relações românticas. Deixando a história meio arrastada, mas não compromete o nível. Ela poderia ser mais crítica, tipo mostrar outros nobres mesquinhos. Pois às vezes pode dar uma impressão de idolatria à nobreza. Outro triunfo da série são os atores, dotados de uma capacidade incrível. Na trilha da escola inglesa de atores, uma das melhores. Tanto que a série foi a que indicou mais pessoas na categoria de melhor ator em geral. Com Michelle Dockery por melhor atriz, Hugh Bonneville por melhor ator, Joanne Froggatt e Maggie Smith por melhor atriz coadjuvante. Jim Carter e Brendan Coyle em melhor ator coadjuvante. Só gente de qualidade. Apesar de ótima, a concorrência está muito qualificada este ano. Na minha opinião carta fora do baralho na categoria de melhor série.

Boardwalk Empire


Os EUA sempre tiveram sua política pautada pelo puritanismo cristão. A Lei seca durou de 1920 e 1933 e foi uma cruzada do moralismo. Só que toda proibição dá uma margem à corrupção e contrabando, que acarreta em violência. É aí que está a história de Boardwalk Empire. Steve Buscemi é Nucky Tompson, tesoureiro de Atlantic City daquela época, que faz todo tipo de maracutaia para poder contrabandear álcool, apesar de ser um político que prega o contrário. Daí vemos uma das reflexões mais brilhantes que já vi do que é a  corrupção na política. O melhor da série é que ela tem o dedo de Martin Scorsese, produtor executivo, o que dá um alto grau de qualidade.

A 1ª temporada perdeu para Mad Men ano passado, nesta segunda vemos um Nuck ameaçado por todos os lados, desde novos interessados em roubar seu posto, até o governo federal, que o coloca em uma sinuca de bico. Porém Nucky não chegou onde chegou à toa e faz de tudo para não “largar o osso”. Agora casado com Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), que são uma espécie de porto seguro em sua vida, o vemos combatendo o grupo de Comodoro e seu filho Jimmy (Michael Pitt). Gostei bastante de como a série tem uma estética ousada, o jogo de câmeras e os diálogos são de muito bom gosto. A cena onde Jimmy é morto por Nucky é de uma beleza incrível.