sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Principais Festivais



Nos últimos anos, a Argentina tem promovido importantes festivais de cinema com temáticas bem variadas e antenadas com as tendências sociais e políticas atuais. Como por exemplo Festival Internacional de Cinema Gay, Lésbico e Transexual da Argentina, a Amostra Nacional de Cinema Ambiental e o Concurso Nacional de Curta-metragem e Vídeo A Mulher e o Cinema. Outro importante festival é o Pantalla Pinamar, que desde 2004 se configurou num ponto de encontro do que é produzido na Europa e na Argentina.
             Mas os festivais mais conceituados são o Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (BAFIC) e o Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata. O Bafic chegou este ano a sua 10ª edição, se consolidando como a maior vitrine do cinema independente feito na Argentina. Já o situado em Mar del Plata, apesar de ser o festival mais antigo do país, ainda é o mais conceituado. Sua primeira edição foi em 1954 e contou com convidados ilustres como Errol Flynn, Joan Fontaine, Edward G. Robinson, Jeanne Moreau e Gina Lollobrigida. Onde foi exibido o que havia de melhor na produção cinematográfica da época. A ilusão viaja de trem (Luís Buñuel), Pão, amor e fantasia (Vitorio de Sicca) e Juventude (Ingmar Bergman). O site oficial da mostra (2008) diz que “o acontecimento despertou um crescente interesse dentro do ambiente intelectual e cinematográfico por criar um festival de cinema argentino. Respondendo deste modo ao alto nível cultural e de exigência do povo argentino”. Este ano o evento ocorreu entre 9 e 13 novembro e o grande vencedor do Astor de ouro (maior premiação) foi Still walking do diretor japonês Hirokazu Kore-eda. Na categoria latino-americana, quem ganhou foi o filme mexicano Los Bastardos, de Amat Escalante.
Outros importantes festivais
• O Festival Internacional de Cinema Gay, Lésbico e Transexual da Argentina

• A Noite do Curta-metragem, no qual concorrem os dez curta-metragens ganhadores dos principais concursos nacionais.

• A Amostra Nacional de Cinema Ambiental.

• O Concurso Nacional de Curta-metragem e Vídeo A Mulher e o Cinema.

• O Festival Internacional pela Identidade e a Diversidade Cultural "Oberá em curtas" que procura estabelecer laços entre os países membros do Mercosul e a região do nordeste argentino.

POLÍTICAS PÚBLICAS


A atual produção argentina possui um fenômeno parecido com o que ocorreu no Brasil no começo dos anos 90. Com o governo de Fernando Collor de Melo (1990-1992), a principal financiadora dos filmes nacionais foi extinta. Com o fim da Embrafilme, o cinema brasileiro passou por uma difícil situação, tendo no ano de 1992 produzido apenas 3 filmes e 4 em 1993, segundo dados do ministério da cultura. Com as políticas neoliberais do governo de Carlos Menem, a Argentina seguiu o mesmo caminho. A situação mudou em 1995, quando foi criado o Fundo de Fomento Cinematográfico do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA), que diferente do caso brasileiro não é uma lei de incentivo. Em trabalho apresentado no III ENECULT (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) na Universidade da Bahia, Lindinalva Rubim define desta maneira o processo de captação de dinheiro pelo Incaa:

O Incaa não é uma lei de incentivo, como as brasileiras, mas um fundo composto a partir de três fontes de impostos principais: salas de exibição de cinema; do aluguel de videocassetes e da exibição de filmes na televisão. Tomando uma média entre os anos de 1999 e 2003, estes impostos perfazem, de modo aproximado: 30%, 10% e 60%, respectivamente, do Fundo. (RUBIM, 2007, p. 5)

Em dados observados no site do Incaa constata-se um aumento considerável na participação do cinema nacional no mercado do país. Em 1993 e 1994, a participação era de quase 2%, já em 1995 aumentou para 10,9%. 
Apesar do aumento gradual da produção doméstica desde a implantação do Incaa, o cinema argentino ainda não alcança as cifras do cinema americano no país. Como pode ser visto nos números oficiais da bilheteria das películas estrangeiras e nacionais de 2006. Somente o público de A Era do Gelo equivale ao total dos cinco nacionais mais vistos.
Título
Espectadores
Arrecadação (US$)
A era do gelo
2.310.139
5.846.981
As Crônicas de Nárnia
1.968.051
4.376.597
Piratas do Caribe, o baú da morte
1.500.270
4.158.929
O Código DaVinci
1.476.438
4.179.299
Carros
1.097.079
2.875.453
Os cinco filmes estrangeiros mais vistos na Argentina em 2006. Fonte: www.incaa.gov.ar.
Título
Espectadores
Arrecadação (US$)
Bañeros 2, Todopoderosos
1.044.664
2.866.035
El raton Perez
869.719
2.174.877
Patoruzito 2, la gran aventura
289.843
680.708
Crônica de uma fuga
197.099
539.831
Las manos
187.669
489.054
Os cinco filmes nacionais mais vistos na Argentina em 2006. Fonte: www.incaa.gov.ar.

O que indica que o problema está na distribuição, pois segundo dados do Recam, que é um órgão consultor do Mercosul na temática cinematográfica e audiovisual, 80% do mercador exibidor argentino estava nas mãos de empresas estrangeiras em 2002. Buena Vista/Walt Disney possuía 20%, a Warner 18%, a Fox 16%, a Columbia 12%, a Universal 8% e a Paramount 2%. O que dificulta o escoamento da produção nacional nas salas de cinema. No artigo Las industrias del audiovisual en el MERCOSUR, escrito  para o site do Recam, Octávio Genito diz:
Em 2004, 8 de cada 10 ingressos eram delas. Dos 63 filmes argentinos que entraram em cartaz, apenas três chegaram próximos do milhão de espectadores (Patoruzito, Clube da Lua e Perigosa obsessão). Outras atingiram entre 100 e 300 mil espectadores (O cachorro; Não é você, sou eu; O abraço partido; Roma; Ai, Juancito! e A menina santa). Os demais filmes mal fizeram 100 mil espectadores, boa parte menos de 10 mil. (GETINO; 2005b)

HISTÓRIA DO CINEMA ARGENTINO


De acordo com o endereço eletrônico Aldea cultural (2006), a primeira exibição cinematográfica da história argentina ocorreu em 18 de julho de 1896, no Teatro Odeón. Apenas um ano depois dos Irmãos Lumiére terem feito a primeira exibição pública do cinema na França. O evento foi organizado por Francisco Pastor, proprietário do local, e o jornalista Eustaquio Pellicer. Durante mais de uma década somente eram filmados paisagens, pequenos documentários e cines-jornal. Em 1909, Mario Gallo, um imigrante italiano, produziu O fuzilamento de Dorrego. Considerado o primeiro filme com argumentos da história do cinema do país. Seis anos depois, com uma repercussão maior, Eduardo Martínez de la Pera, Ernesto Gunche e Humberto Cairo apresentaram Nobleza Gaucha, que custou 20.000 pesos e arrecadou 1 milhão. Este feito despertou o interesse de muitas pessoas, propiciando a formação de novas produções.
Nos anos 20, começou a se sentir a entrada das produções, o que provocou uma caída na produção do cinema local. Nesta época foram produzidos por Negro Ferreyra: La Muchacha del Arrabal (1922), Buenos Aires, Ciudad de Ensueño (1922) e La Costurerita que dio aquel Mal Paso (1926), que tinham uma temática urbana e popular. O primeiro filme falado foi feito em 1931, também por Negro Ferreyra. Muñequitas Portenas era o nome da película.

O que é a Buena Onda Argentina?



Apesar de elementos em comum, o movimento é pautado pela pluralidade dos estilos dos diretores. Mas já que eles possuem uma variedade tão grande porque eles podem ser agrupados num certo estilo argentino?
Quem responde esta pergunta é Gabriela Halac no artigo Lucrecia Martel – Poética (pura) para o livro Poéticas en el Cine Argentino. Ela faz uma reflexão de quais seriam estes elementos de conexão entre os realizadores.
“O caso da geração de diretores denominados pela crítica “novo cinema argentino” por si reconhecem intenções grupais, pelo o que não poderia se detrminar uma linha estética que os agrupe e os defina como um movimento. De todas as amaneiras talvez o grande câmbio no modo de fazer cinema, somado a interesses geracionais, contexto nacional, um mesmo horizonte de cinema contra o qual rebelar-se, etc, reúnem o reflexo e impregnam as visões que pousam sobre eles.” (Paulinelli, 2005:.96)
Para designar o cinema produzido na Argentina, a crítica criou o termo “Buena Onda Argentina”. A tentativa de uma padronização dá uma falsa sensação de unidade. Apesar de existirem temas recorrentes, como a crise econômica do começo do século XXI, o tom nostálgico de uma Bueno Aires boêmia do passado e os horrores da ditadura militar, a produção é muito variada para ser enquadrada em uma escola cinematográfica nos moldes do “Neo-realismo italiano” e a “Nouvelle Vague francesa” ou do “Cinema Novo no Brasil”. Onde de fato existia uma preocupação de se criar manifestos para reafirmar os parâmetros ideológicos do movimento. Como foi o caso da revista Cahiers du Cinema para os franceses e os livros de Glauber Rocha para os brasileiros.
Esta tendência do nosso país vizinho mostra força, como foi no festival de Cannes de 2008, onde o trabalho de dois dos mais importantes diretores da atual safra argentina, La mujer sin cabeza (Lucrécia Martel) e Leonera (Pablo Trapero), foram selecionados para a competição oficial. Em 2010, com O segredo de seus olhos de Juan José Campanella, a Argentina ganhou seu segundo prêimo de melhor filme estranjeiro (antes havia ganho com História Oficial em 1986).
No meio da generalização do termo, há também cineastas da velha guarda que já possuíam carreiras reconhecidas antes do boom do começo do século. Como é o caso de Fernando Solanas e Adolfo Aristarain. Solanas faz documentários desde 1962, sempre com fortes denúncias da pobreza na Argentina e os malefícios das políticas neoliberais pós-ditadura militar, principalmente no governo do presidente Carlos Menem. Os anos de Menem no poder, que vai de 1989 até 1999, é alvo de críticas profundas no filme Memórias do saque de 2004.

No Brasil

Os críticos brasileiros batizaram o modo atual de fazer cinema na argentina de Buena Onda Argentina. Os filmes argentinos começaram a ser mais notados no Brasil a partir de O filho da noiva de Juan José Campanella. O filme ganhou os Prêmios da Crítica, do Júri Popular e de Melhor Atriz (Norma Aleandro), no Festival de Gramado em 2001, ano em que concorreu sem sucesso ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Sendo um filme bastante comentado por aqui. A popularidade do filme pode ser conferida pela bilheteria: foi visto por 1,8 milhão de pessoas na Argentina, 1,6 milhão na Espanha e 500 mil brasileiros, sem contar as que o assistiram em vídeo e DVD. O público brasileiro pode parecer pequeno, mas se for tomado em consideração o fato do filme ser latino americano e não ter tido publicidade além da de cadernos de cultura e o boca-a-boca, foi um êxito.
Com o tempo o termo começou a ser usado como palavra comum por todos os grandes críticos dos principais cadernos de cultura do país como a Ilustrada da Folha de São Paulo, Caderno 2 do Estado de São Paulo e o Caderno C do Correio Brasiliense.