quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Depois da chuva


O filme até tinha uma premissa interessante, as dificuldades e desafios de um adolescente perante um Brasil que estava em processo de redemocratização no turbulento ano de 1984, em Salvador na Bahia. Porém a narrativa recorre a clichês que o deixaram o chato e pseudo-utópico. A namoradinha da escola, o protagonista vencendo a eleição do grêmio estudantil, o punk-rock pesado como um catalizador de sentimentos. Fica a impressão de que se alguns elementos fossem mais bem trabalhados, a película poderia ter tido um resultado "sério", no sentido da consagração da obra. Mas, talvez por falta de capacidade técnica dos diretores Cláudio Marques e Marília Hughes, o lugar comum toma de conta de maneira acachapante. Algo para agradar e não revoltar, revolta até tem, mas num tom tão ingênuo que enche o saco. O resultado final vai na mesma linguagem rala de "As melhores coisas do mundo", trabalho de Laís Bodanzky sobre as aventuras de um jovem na mesma faixa etária numa escola particular  de classe média de São Paulo, mas nos anos 80. Isto é, na metade do filme você já sabe o final. O garoto revoltado com a vida vai passar por alguns ritos de passagens convencionais e os vencerá, pois a vida é dos persistentes. Uma lição de moral bem fraca e explorada à exaustão no cinema tradicional. Um ponto que me chamou a atenção foi o uso de imagens históricas da época da redemocratização, porém aqui novamente os diretores fazem a escolha errada de tentar associá-las à eleição do garoto na escola. Dando um ar meio caricato ao fato. Outro erro foi o centralismo muito grande no protagonista, os outros personagens ficam ralos e sem complexidade. Principalmente o grupo de amigos mais velhos de Caio, onde o garoto entra em contato com o mundo das ideias libertárias e das drogas. Mas você não sabe como ele os conheceu, eles aparecem de supetão e não falam nada com nada acerca da personalidade deles. Passando a impressão que eles são apenas ideias e não pessoas com ideias. Indo para um final meio patético, onde um deles se suicida por não se encaixar na nova realidade. Outro pretexto interessante, mas que vai para a tela num tom exagerado, pois a morte ocorre depois que o personagem pega o microfone num show de punk-rock e começa a xingar a plateia, que o hostiliza. Depois daí o sentido mundo acaba de vez, pois aquela galera era a esperança de revolução para ele. Um conselho, não perca seu dinheiro quando estrear no circuito comercial.

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