domingo, 22 de setembro de 2013

Amor, plástico e barulho


Depois da boa impressão que Pernambuco deixou no festival do ano passado, qualquer um que vier do Estado estará em volta de grande expectativa. Ainda mais com o sucesso de “O som ao redor”, que consolidou Recife como o pólo com a produção mais criativa da atualidade no Brasil. E a diretora estreante em longa-metragem, Renata Pinheiro, não faz feio. Ao retratar o universo do brega de lá atinge um tom quase antropológico. A trama gira em torno de Shelly (Nash Laila), uma dançarina que almeja se tornar cantora, e Jaqueline (Maeve Jinkings), uma cantora já em decadência.

O brega é o bolero brasileiro, poucos estilos musicais vão tão longe nas peripécias do amor. A histórias de aventuras amorosas caiu em cheio no gosto popular, desde muito tempo sendo o estilo favorito dos moradores das periferias das cidades. É esse o ambiente que Renata Pinheiro retrata com maestria em seu filme. O enredo não é original, afinal temos muitos exemplos de roteiros onde uma jovem tenta se inserir no mundo artístico e sofre as consequências deste mundo tão difícil, porém o diferencial aqui é que a periferia é de verdade, diferente de exemplos de obras da Globo, onde tudo é pasteurizado e atrizes que não tem nenhuma aparência de locais são inseridos à força nos papéis, parecendo alienígenas. Como foi o caso da novela "Cheias de Charme", que tem uma trama similar.


Aqui os personagens parecem que acabaram de sair de um show na mais popular das casas noturnas de Recife. O que dá um alto grau de veracidade à tudo, você se sente dentro da película. Mérito para as protagonistas Nash Laila e Maeve Jinkings. A última aliás se consolida cada vez mais na carreira de atriz de cinema, antes trabalhou em “O som ao redor”, onde faz uma mãe de família infeliz que só alcança prazer sexual com eletrodomésticos, em uma interpretação marcante.  

A direção não segue o padrão inovador de outras produções da safra atual de Recife, numa linguagem bem mais acessível. Mas entende-se esta opção, pois uma linguagem complicada num filme que retrata o popular seria um tiro no pé. Mas mesmo assim a mise-en-scène é cativante. Se tivesse um lançamento grande, com muitas salas de exibição à disposição, poderia ser um grande sucesso de público. Mas pena que esta não é a realidade, pois nossos cinemas estão invadidos por produções hollywoodianas e pela Globo Filmes.


Bom saber que Recife vai bem obrigado no cinema e que podemos contar com uma produção criativa constante. “Amor, plástico e barulho” é um filme que merece ser acompanhado, pois tem um grande futuro pela frente. E também a diretora novata, pois demonstra que se tiver incentivo pode chegar longe no mundo cinematográfico.


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