sexta-feira, 1 de março de 2013

Argo

Argo foi o arrasa quarteirão da temporada. Ganhou os principais prêmios do ano, incluindo o Melhor Filme do Oscar e do Globo de Ouro. A história se passa nos traumáticos dias em que os funcionários da embaixada americana no Irã ficaram seqüestrados por 444 dias, logo após a eclosão da Revolução Islamita que tomou o poder em 1979. O caso mexeu tanto com os EUA que muitos analistas apontam este desgaste como uma das principais razões da não reeleição de Jimmy Carter na eleição de 80. Porém o foco está não na embaixada, e sim em 6 funcionários que conseguiram escapar durante o começo do tumulto e se refugiam na casa do embaixador do Canadá. É aí que entra o agente especial da CIA, Tony Mendez. Interpretado por Ben Affleck, que é diretor, produtor e protagonista do filme. Durante reuniões na agência de espionagem tem um insight de se passar por produtor de um filme de ficção científica em busca de locações no Irã, arrumando assim a desculpa perfeita para poder retirar os 6 americanos de lá. 


Este é o 3º longa que Affleck dirige, os outros foram Medo da verdade (2007) e Atração Perigosa (2010). Trabalhos que passariam despercebidamente se o diretor não fosse o ator famoso que é. A película de 2010 tem um ritmo super previsível, acabando no final feliz tão comum ao que Hollywood produz. O tipo de obra que te conta tanto, com tantas imagens frenéticas, que não te dá espaço para aquele devaneio esclarecedor que temos durante uma obra-prima. Por isso que na minha opinião achei exagerado aquele fuzuê todo em cima do fato dele não ter sido indicado na categoria de Melhor Diretor. Claro que a atual geração não é lá essas coisas, mas ele não tem cacife para ficar “chatiadinho” com a Academia, demonstrado isso publicamente no discurso do recebimento do prêmio que ganhou pela direção no Globo de Ouro. 

Voltando ao que interessa, podemos resumir o grande vencedor do Oscar em uma grande “patriotada”. Os americanos são retratados apenas como vítimas, sem nenhuma reflexão séria das circunstâncias históricas do que foi aquele agulheiro que eles se meteram. A única sinalização foi uma animação nas primeiras cenas do filme, mas que apenas informa, não induz ao raciocínio. Os iranianos são retratados como fanáticos religiosos sanguinários, o que em parte é verdade, mas o filme não tem nenhum personagem do lado de Teerã para balancear as motivações que estavam enraizadas naquele povo para fazer o que fez. O que daria uma riqueza de interpretações, mas este não é o objetivo do grande cinema americano. Por isso que fiquei curioso quando li que o governo dos Aiatolás pretende fazer uma película com o mesmo tema em resposta, só que agora na visão deles. Deve virar uma porcaria ideológica, mas só de ver o que eles pensavam sobre aquilo, vai valer o ingresso (ou o download da internet). 

Este trabalho de Affleck não chega a ser ruim, mas possui uma condução tão careta que às vezes irrita. A cartilha tá toda lá: o uso emocional da música, o protagonista que tem que se focar no trabalho para dá um tempo nas preocupações na família, o plano-contra plano nos diálogos, o heroísmo das instituições estadunidenses. O que foi aquela louvação à CIA? No final quando Tony Mendez conversa com alguém do governo, que o mostra o relatório da CIA de 1 ano antes dos conflitos no Irã, onde estava escrito que não havia nenhuma possibilidade do governo do Xá Mohammad Reza Pahlavi cair. Aí Mendez responde que todo mundo erra. Sem nenhum comentário malicioso sobre a burrice da inteligência na agência. Se fosse Stanley Kubrick dirigindo seria outra história, poucos dramas políticos terão diálogos mais inteligentes que Dr. Fantástico. 

Apesar dos pesares, o filme tem bons momentos. A reconstituição da época (na parte técnica), está impecável. Os atores John Goodman como John Chambers e Alan Arkin como Lester Siegel fazem uma dupla adorável de produtores que ajudam na farsa do filme. Através deles entramos em contato com os bastidores do lançamento de um filme, o que rende boas situações. A tensão quando Mendez simplesmente ignora ordens superiores e decide seguir com o plano de retirar os seis pelo aeroporto dá um brilho ao filme, mas fica meio apelativo quando ele diz para seu chefe que vai fazer isso pelos americanos, que eles estão sob sua responsabilidade. Contudo velhos clichês vem à tona naqueles momentos finais onde o plano vai por água abaixo e eles estão entrando no avião. Naquele clímax tão tradicional que você sabe que eles vão escapar. Pois se tem tragédia no meio, o Oscar também foge. No final das contas mais um filme feito ganhar o Oscar que não está à altura dos tempos áureos da premiação. Vai ser mais um trabalho razoável a ganhar o Oscar, na mesma categoria de outros medianos laureados com o prêmio máximo, como Quem que ser um milionário? e Crash – No Limite.

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