Aos 15 minutos da prorrogação, no último lance das quartas de finais da
Copa de 2010 aconteceu um daqueles fatos inimagináveis no mundo do futebol, uma
daquelas aparições do sobrenatural de Almeida, que Nelson Rodrigues sempre
citava. Asamoah Gyan teve a chance de entrar no hall dos grandes jogadores de
todos os tempos, mas um pênalti perdido o tirou dali. Aconteceu uma falta
marota pela direita, daquelas determinantes para mexer num placar no apagar das
luzes de um jogo. Depois de um bate-rebate na área, a bola do jogo sobrou
caprichosamente na cabeça de Dominic Adiyiah, quando Suarez colocou as duas
mãos na bola, evitando o endereço certo. O jogo entre a seleção do Uruguai e de
Gana parou. O juiz olhou para o bandeirinha, que olhou para o árbitro reserva e
todos, sem pestanejar, indicaram a penalidade máxima e o cartão vermelho para o
infrator que cometeu o pênalti mais escandaloso de todos os tempos. Ao colocar
a bola na marca do pênalti, todos olhavam com confiança para Gyan, mesmo o
jogo empatando Gana foi melhor no jogo, merecia a vitória e ele era a estrela
do time. Apesar de a Copa ser na África todas as equipes do continente já
tinham sido eliminadas. Do outro lado tinha o Uruguai, bi-campeão mundial, mas
que desde 70 não chegava numa semi-final. Talvez o filme com este enredo de
escola grandiosa, mas decadente, passou na cabeça de Suaréz e ele colocou a mão
descaradamente na bola para evitar o destino certo do gol. Outro título sagrado
que o africano iria obter era o de maior artilheiro africano em Copas, se
juntando a Roger Milla, um mito do esporte vindo de Camarões com 5 gols. Ele se
dirigia à bola com esta confiança de quem se sentia já como um herói nacional,
pois se ele tivesse convertido a penalidade máxima, Gana seria a primeira seleção
do continente a chegar nesta fase da competição mais importante do futebol e
ele seria uma lenda viva. Apesar de ter produzido times memoráveis como a
Nigéria de 94, o próprio Camarões de 90 de Milla, nunca havia chegado além das
quartas. Quando Gyan chutou a penalidade máxima por cima da trave todos já
sabiam que Gana perderia a batalha. A celeste se agigantou e conquistou a vaga
na disputa por pênaltis com direito à cavadinha de Loco Abreu na última
cobrança. A história foi ingrata com Gyan, ou ele foi ingrato com ela por não
ter desfrutado da incrível oportunidade que foi colocada na sua frente?
Realmente eu nunca me esquecerei da alegria de Suárez ao ver o seu sacrifício
funcionando...
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