Tim Maia foi um personagem perfeito para uma biografia.
Intenso e doidão, tinha muitas histórias memoráveis para contar. Desde sua vida
suburbana na Tijuca, onde conviveu com Roberto e Erasmo Carlos (foi ele quem
ensinou o Erasmo a tocar violão), indo pela sua passagem de 5 anos pelos
Estados Unidos na adolescência e começo da vida adulta. Na volta ao Rio de
Janeiro, deportado ao ser flagrado com um carro roubado. Sua luta para se
encaixar no show business e a sua ascensão. Tudo isso está recheado de casos hilários,
que você não acreditaria se o protagonista não fosse o Tim Maia do Brasil, como
ele gostava de ser chamado.
Ninguém mais que Nelson Motta foi o responsável por escrever
a biografia do amigo Tim. Que conheceu em 1969, quando foi produzir um disco da
Elis Regina e estava atrás de uma música para o trabalho. Foi quando se deparou
com “These are the songs” e viu o tamanho do talento do compositor, na época
ainda um ilustre desconhecido. Motta foi uma espécie de espectro que circulava
pela noite carioca desde o começo da década de 60. Presenciou o surgimento da
Bossa Nova, do samba-rock, do rock anos 80, e outros tantos estilos da rica
história da MPB. Muitas dessas histórias estão em seu outro livro chamado
“Noites Tropicais”, mas aí já é uma outra história. Voltando ao gordo mais
querido da música brasileira, o jornalista é preciso na fluidez da história. E se
aproveitando do seu livre trânsito entre os mestres da música, reuniu
depoimentos fantásticos. Nos sentimos numa roda fumando um com Tim do tanto que
tudo é bem contado. Alias, as drogas têm um papel chave nesta história. Desde
que conheceu a erva nos USA nunca mais a largou, sendo um consumidor que deixa
o Marcelo D2 parecendo um menino. Outro fato que rende uma boa prosa foi sua
constante mania de faltar aos shows. Com era um doidão crônico, muitas vezes
fazia uma apresentação numa noite e varava o dia nas melhores companhias e com
as melhores drogas. Sendo assim, não tinha condição nenhuma de cantar no dia
seguinte.
Apesar desta falta de respeito com os empresários e o
público, ele era amado por todos. Suas músicas tinham uma aceitação muito
grande, em todas as classes e faixas etárias. O fazendo um campeão de vendas, o
que lhe deu grande liberdade artística para ser o rei da música romântica brasileira,
ou mela cueca e esquenta suvaco, como ele mesmo defina suas canções. Tim Maia do Brasil foi um dos maiores músicos da sua geração,
vai ser lembrado para sempre. A biografia “Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia” está à altura do
seu imenso talento e legado.