Depois da boa impressão que Pernambuco deixou no festival do ano passado, qualquer um que vier do
Estado estará em volta de grande expectativa. Ainda mais com o sucesso de “O som
ao redor”, que consolidou Recife como o pólo com a produção mais criativa da
atualidade no Brasil. E a diretora estreante em longa-metragem, Renata
Pinheiro, não faz feio. Ao retratar o universo do brega de lá atinge um tom quase antropológico. A trama gira em torno de Shelly (Nash Laila), uma
dançarina que almeja se tornar cantora, e Jaqueline (Maeve Jinkings), uma
cantora já em decadência.
O brega é o bolero brasileiro,
poucos estilos musicais vão tão longe nas peripécias do amor. A histórias de
aventuras amorosas caiu em cheio no gosto popular, desde muito tempo sendo o
estilo favorito dos moradores das periferias das cidades. É esse o ambiente que
Renata Pinheiro retrata com maestria em seu filme. O enredo não é original,
afinal temos muitos exemplos de roteiros onde uma jovem tenta se inserir no
mundo artístico e sofre as consequências deste mundo tão difícil, porém o
diferencial aqui é que a periferia é de verdade, diferente de exemplos de obras
da Globo, onde tudo é pasteurizado e atrizes que não tem nenhuma aparência de
locais são inseridos à força nos papéis, parecendo alienígenas. Como foi o
caso da novela "Cheias de Charme", que tem uma trama similar.
Aqui os personagens parecem que
acabaram de sair de um show na mais popular das casas noturnas de Recife. O que
dá um alto grau de veracidade à tudo, você se sente dentro da película. Mérito
para as protagonistas Nash Laila e Maeve Jinkings. A última aliás se consolida
cada vez mais na carreira de atriz de cinema, antes trabalhou em “O som ao
redor”, onde faz uma mãe de família infeliz que só alcança prazer sexual com eletrodomésticos,
em uma interpretação marcante.
A direção não segue o padrão inovador
de outras produções da safra atual de Recife, numa linguagem bem mais acessível.
Mas entende-se esta opção, pois uma linguagem complicada num filme que retrata o
popular seria um tiro no pé. Mas mesmo assim a mise-en-scène é cativante. Se
tivesse um lançamento grande, com muitas salas de exibição à disposição,
poderia ser um grande sucesso de público. Mas pena que esta não é a realidade, pois nossos
cinemas estão invadidos por produções hollywoodianas e pela Globo Filmes.
Bom saber que Recife vai bem obrigado no cinema e que
podemos contar com uma produção criativa constante. “Amor, plástico e barulho”
é um filme que merece ser acompanhado, pois tem um grande futuro pela frente. E
também a diretora novata, pois demonstra que se tiver incentivo pode chegar
longe no mundo cinematográfico.