Ver
um filme de Quentin Tarantino é ver algo com um amor incondicional ao
cinema. Ele nunca mais fez uma obra-prima como Pulp Fiction? Não importa. O que
vale são seus planos minuciosamente pensados, suas viradas no roteiro, o tema
persistente da vingança, a violência gratuita, e muitas, muitas mortes. Com
essa marca registrada do autor, uma multidão já foi ver Django, já seu o filme
mais rentável. Só nos cinemas brasileiros 695.589 pessoas foram conferir o
filme. Nas bilheterias americanas já rendeu mais de 150 milhões de dólares.
O
diretor é uma colcha de retalhos de referências, depois de filmes orientais em
Kill Bill 1 e 2, filmes de guerra em Bastardos inglórios, desta vez a escolhida
foi o mundo do Spaghetti Western. Que basicamente foi um bang bang à italiana.
Eles são tão fãs do gênero que fizeram um genérico em seu país que não ficava
nada para trás dos americanos. Soprando uma renovação do estilo pouco antes
vista. Esta leva deu frutos como “Três Homens em Conflito” e “Era uma vez no
Oeste” de Sérgio Leone, “Django” de Sérgio Corbucci. E nota-se este estilo à
italiana e o western clássico em vários momentos do filme. Os planos longos e
finamente conduzidos com a música de fundo nos lembra os de Leone. O cinema de
John Ford também é citado, os planos gerais do cenário natural do velho oeste
são sensacionais. Na hora vem à cabeça cenas de “Rastros de ódio” (The
Searches) e “O homem que matou o facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance).
Clássicos eternos do mais americano dos gêneros cinematográficos. Outra
referência obrigatória de citar é a carnificina do clímax de “Django”, quando
ocorre a tentativa de resgate da esposa do protagonista. Na hora somos levado
ao estilo visceral de Sam Peckinpah, que já fazia o que Tarantino faz hoje com
a violência estilizada, só que há 40 anos atrás. Como não pensar em “Meu ódio
será sua herança” (Wild Bunch)? É um clássico a cena de quando ocorre um banho
de sangue de proporções épicas no final da película. Vê-se que Quentin se inspira
no estilo deste filme no clímax do seu.
Os
atores estão à altura, Jamie Foxx como Django
foi uma escolha acertada. Christoph
Waltz no papel de Dr. King
Schultz está novamente sensacional depois da sua maravilhosa
poliglota apresentação em Bastardos Inglórios. Ele é uma das melhores coisas de
Django, a personalidade do dentista que se transforma num caçador de
recompensas é um dos melhores alicerces da trama. Quando ele dá um tiro no
personagem Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) por não resistir ao desejo de matá-lo por ele insistir de
maneira grosseira um aperto de mão, ele olha para Django e pede perdão por não
se controlar e botar todo o plano abaixo, é tocante. DiCaprio também vale um
comentário. Ele se adaptou muito bem ao estilo do personagem “tarantiniano”.
Nestes últimos anos, depois de trabalhar com diretores como Clint Eastwood,
Martin Scorsese, Christopher
Nolan, tem conseguido uma reputação de “ator sério”, não somente de
filmes de romance com linguagem fácil.
A
única ressalva que faço ao filme foi seu final. Para se obter o efeito desejado
na sua cabeça, o diretor acaba forçando um pouco o roteiro. A obsessão da
vingança ser concretizada leva a situações bem pouco verossímeis como um bando
de mercadores de escravos dar uma arma para Django por causa de uma promessa de
recompensa meio forçada. Mas claro que estou levando em conta que
verossimilhança e Tarantino são coisas que não estão necessariamente juntas.
Mas ele já foi mais sutil nesta arte de colocar de mãos dadas o surreal e
inesperado. Mas este detalhe não tira a obrigação de ir ver “Django” no cinema,
na tela grande. Pois poucos diretores atualmente conduzem tão bem o espetáculo
do rito moderno da sala escura do cinema quanto Tarantino. As 2h40 minutos
passam num flash.
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