Apesar de elementos em comum, o movimento é pautado pela pluralidade dos estilos dos diretores. Mas já que eles possuem uma variedade tão grande porque eles podem ser agrupados num certo estilo argentino?
Quem responde esta pergunta é Gabriela Halac no artigo Lucrecia Martel – Poética (pura) para o livro Poéticas en el Cine Argentino. Ela faz uma reflexão de quais seriam estes elementos de conexão entre os realizadores.
“O caso da geração de diretores denominados pela crítica “novo cinema argentino” por si reconhecem intenções grupais, pelo o que não poderia se detrminar uma linha estética que os agrupe e os defina como um movimento. De todas as amaneiras talvez o grande câmbio no modo de fazer cinema, somado a interesses geracionais, contexto nacional, um mesmo horizonte de cinema contra o qual rebelar-se, etc, reúnem o reflexo e impregnam as visões que pousam sobre eles.” (Paulinelli, 2005:.96)
Para designar o cinema produzido na Argentina, a crítica criou o termo “Buena Onda Argentina”. A tentativa de uma padronização dá uma falsa sensação de unidade. Apesar de existirem temas recorrentes, como a crise econômica do começo do século XXI, o tom nostálgico de uma Bueno Aires boêmia do passado e os horrores da ditadura militar, a produção é muito variada para ser enquadrada em uma escola cinematográfica nos moldes do “Neo-realismo italiano” e a “Nouvelle Vague francesa” ou do “Cinema Novo no Brasil”. Onde de fato existia uma preocupação de se criar manifestos para reafirmar os parâmetros ideológicos do movimento. Como foi o caso da revista Cahiers du Cinema para os franceses e os livros de Glauber Rocha para os brasileiros.
Esta tendência do nosso país vizinho mostra força, como foi no festival de Cannes de 2008, onde o trabalho de dois dos mais importantes diretores da atual safra argentina, La mujer sin cabeza (Lucrécia Martel) e Leonera (Pablo Trapero), foram selecionados para a competição oficial. Em 2010, com O segredo de seus olhos de Juan José Campanella, a Argentina ganhou seu segundo prêimo de melhor filme estranjeiro (antes havia ganho com História Oficial em 1986).
No meio da generalização do termo, há também cineastas da velha guarda que já possuíam carreiras reconhecidas antes do boom do começo do século. Como é o caso de Fernando Solanas e Adolfo Aristarain. Solanas faz documentários desde 1962, sempre com fortes denúncias da pobreza na Argentina e os malefícios das políticas neoliberais pós-ditadura militar, principalmente no governo do presidente Carlos Menem. Os anos de Menem no poder, que vai de 1989 até 1999, é alvo de críticas profundas no filme Memórias do saque de 2004.
No Brasil
Os críticos brasileiros batizaram o modo atual de fazer cinema na argentina de Buena Onda Argentina. Os filmes argentinos começaram a ser mais notados no Brasil a partir de O filho da noiva de Juan José Campanella. O filme ganhou os Prêmios da Crítica, do Júri Popular e de Melhor Atriz (Norma Aleandro), no Festival de Gramado em 2001, ano em que concorreu sem sucesso ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Sendo um filme bastante comentado por aqui. A popularidade do filme pode ser conferida pela bilheteria: foi visto por 1,8 milhão de pessoas na Argentina, 1,6 milhão na Espanha e 500 mil brasileiros, sem contar as que o assistiram em vídeo e DVD. O público brasileiro pode parecer pequeno, mas se for tomado em consideração o fato do filme ser latino americano e não ter tido publicidade além da de cadernos de cultura e o boca-a-boca, foi um êxito.
Com o tempo o termo começou a ser usado como palavra comum por todos os grandes críticos dos principais cadernos de cultura do país como a Ilustrada da Folha de São Paulo, Caderno 2 do Estado de São Paulo e o Caderno C do Correio Brasiliense.
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