O filme tem até a boa intenção
de fazer um cinema autoral, o que cai como uma luva para a proposta do Festival
de Brasília. Mas peca por transgredir sem ser cativante, fazendo dos 72 minutos
uma tortura. Tinha tudo para ser ótimo, afinal um dos símbolos do cinema
autoral brasileiro topou ser um dos atores principais, Carlos Reichenbach. O
diretor de clássicos nacionais como “Alma Corsária”, “Lilian M.: relatório confidencial”
e “Filme Demência”, dá seus adeus à vida (ele morreu em 2012), e ao cinema no
primeiro longa-metragem de Michael Wahrmann. Aqui ele faz o papel do pai de
André (André Gatti), que na beira da morte fica vendo filmes em Super-8mm com
imagens de seu filho desaparecido há 30 anos pelas mão da Ditadura Militar.
A premissa é interessante, dá
vontade de ver pela sinopse e pela participação do “Carlão”. Mas o filme é
fraco por ser muito ambicioso sem a sustentação necessária. Não tem
desenvolvimento dramático nítido, planos extremamente longos e uma lentidão
excessiva. Muitas boas obras foram construídas em cima destas características,
mas com o diferencial de que eram vigorosos mesmo no seu marasmo. O movimento
que ficou conhecido como Cinema Marginal, o que o Carlos Reichenbach foi um dos
grandes expoentes, é um bom exemplo. Se valendo destas mesmas categorias
dramáticas conseguem transmitir com maestria o espírito do tempo de sua época.
Toda uma nova maneira de transgressão na tela, aqui esta ação é vazia.
Tudo começa com o André indo
para a casa de seu pai depois de uma briga com a esposa. Por lá fica e se depara com muitos filmes antigos de super-8mm de seu irmão em uma viagem à
Rússia. Com estes elementos dá para saber que ele foi perseguido pelo regime
militar e que está desaparecido há 30 anos. Porém seu personagem não é
trabalhado e tudo relacionado à sua pessoa se torna maçante. Não mais do que o
pai (o personagem não tem nome mesmo) que está num estado de avançado de
velhice e vive perdendo a bolinha do cachorro no bueiro. Com certeza mesmo num
ambiente de um velho nostálgico coisas mais interessantes podem ocorrer.
É o que eu comentei acima,
este tipo de exploração é válida e interessante, mas o diretor tem que se tocar
que um filme pode ser hermético sem ser incomunicável. É o tipo de trabalho que
vai ser somente visto e apreciado somente por um grupo minúsculo de pessoas,
pois não convence. Não que eu seja a favor de uma linguagem fácil e acessível,
acho isto um porre também. Mas penso que poderia ter um tempero melhor. Volto
ao Cinema Marginal para endossar minha opinião, num segundo momento, pelo
endurecimento dos militares foram limados do circuito exibidor (que já era
pequeno). Mas mesmo em experiências feitas para amigos, se sente algo novo e
instigante. É para poucos, mas tem uma chama universal. O que faltou em “Avanti
Popolo”, que passa mais a impressão de ser um experimento vazio e que ficará no
canto de alguma cinemateca, pois é fechado em si mesmo.
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